O ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, afirmou hoje, sábado, em Luanda, que o Executivo angolano vai continuar a reforçar a TAAG (Linhas Aéreas de Angola) com meios técnicos e aéreos, a fim de tornar a companhia referência mundial, prestando um trabalho com credibilidade, segurança e conforto.
A atingir tal desiderato, Angola que é um dos países mais corruptos do mundo, que é um dos países com piores práticas democráticas, que é um país com enormes assimetrias sociais, que é o país com o maior índice de mortalidade infantil do mundo, passará a ter o rótulo de companhia de referência (mundial).
Augusto da Silva Tomás falava à imprensa, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, no acto de recepção da nova aeronave Boeing 777-300ER da companhia angolana de bandeira.
De acordo com o ministro, o programa faz parte de uma estratégia do Executivo de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, com vista a dotar a empresa de uma gestão profissional de nível internacional, tendo em conta a posição geoestratégica de Angola.
“Era necessário dotar a companhia de meios que permitam exercer o seu trabalho com eficácia e eficiência, sobretudo no âmbito dos padrões internacionais. É preciso igualmente ter pessoal qualificado para poder rentabilizar a empresa, melhorar o serviço prestado aos passageiros, elevar os seus padrões de operacionalidade e segurança”, salientou Augusto da Silva Tomás.
Avaliada em três biliões e 500 milhões de kwanzas, o avião, baptizado de ”Morro do Moco”(bem poderia chamar-se Isabel dos Santos), é o último de três aparelhos recentemente adquiridos ao fabricante norte-americano, tendo os dois primeiros chegado ao país em Maio último.
A aeronave, que recebeu o nome em homenagem ao maior morro de Angola localizado na província do Huambo, planalto central, tem capacidade para transportar 225 passageiros em classe económica, 56 em executiva e 12 em primeira classe.
O “Morro do Moco” é o oitavo avião do tipo “triple seven” que a companhia angolana de bandeira adquire desde a chegada, a Luanda, do primeiro modelo, em Junho de 2011. A TAAG serve 31 destinos domésticos e internacionais com uma frota de 13 aeronaves, incluindo 737 e 777-200ER.
Reforço da rota para Portugal
A TAAG vai passar a voar duas vezes por dia para Portugal, utilizando para tal o “Morro do Moco”. Em declarações à agência Lusa à margem da entrega da nova aeronave, o presidente do Conselho de Administração da TAAG (não, ao contrário do habitual não é – por enquanto – nenhum membro do clã Eduardo dos Santos), Peter Hill, disse que a nova aeronave ai operar a rota para Portugal.
“Vamos passar a voar duas vezes por dia para Portugal e para isso precisávamos de um segundo avião, que é este. Todos os nossos voos para Portugal serão com este nível de avião, que é muito bom”, afirmou Peter Hill.
Entre outras alterações a partir do final de Outubro, a TAAG passa a voar 11 vezes por semana para Lisboa (mais quatro voos, à tarde), mantendo três para o Porto, com recurso ao “Morro do Moco” e ao “Iona”.
Segundo a empresa, as rotas para Portugal são as mais lucrativas da TAAG, sendo apresentadas como ‘premium’.
“A TAAG torna-se, neste momento, a líder africana neste modelo de aeronaves e o programa de reestruturação e de reformas na companhia vai continuar, por forma a tornar a TAAG numa empresa rentável, eficiente, eficaz e que preste bom serviço aos passageiros”, destacou o ministro dos Transportes angolano, Augusto da Silva Tomás.
Recorde-se que Angola contraiu um empréstimo intercalar de 153,6 milhões de dólares para garantir a entrega do terceiro avião Boeing 777-300 ER.
De acordo com um despacho assinado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, que também concede uma garantia soberana à operação, trata-se de um “empréstimo intercalar” concedido pela Boeing Capital Corporation (BCC), justificado pela “necessidade” da “pontualidade da entrega por parte do fabricante”.
Trata-se de um empréstimo intercalar, tendo em conta o financiamento previsto pelo Exim Bank (banco de fomento das exportações norte-americanas) para esta aquisição, mas que ainda não estará disponível.
A entrega deste avião chegou a ser anunciada para Junho passado pelo administrador da companhia aérea de bandeira angolana. Desde então, a TAAG tem vindo a cortar várias ligações menos lucrativas, de forma a reduzir os prejuízos.
A companhia assegura 31 destinos domésticos e internacionais com recurso a cinco aviões Boeing 737 e oito 777 (200 e 300), incluindo, além de Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Brasil e Cuba.
Para deixar a crise em terra
No dia 15 de Julho de 2016, a TAAG admitiu que enfrenta “sérias dificuldades” para cumprir as “obrigações contratuais” com fornecedores e credores, devido à conjuntura em Angola, nomeadamente a falta de divisas.
A situação foi admitida num comunicado divulgado pela transportadora, confirmando – como o Folha 8 noticiou – a suspensão da compra, com recurso a moeda nacional angolana, o kwanza, de bilhetes para viagens com destino a Luanda e o início no exterior do país.
“Tendo em consideração a crise económica que assola a República de Angola”, que tem criado “desequilíbrios financeiros e contabilísticos de forma generalizada” e “bem notável e acentuada escassez no acesso e disponibilidade da moeda estrangeira, particularmente no sector da aviação civil”, justificava a companhia.
“Os elevados custos operacionais no exterior do país”, diz ainda a TAAG no comunicado, tem levado a companhia a “enfrentar sérias dificuldades em honrar com as obrigações contratuais junto dos fornecedores e credores”.
Daí que a companhia espere aumentar as vendas em moeda estrangeira, como em dólares e euros, para fazer face às necessidades operacionais fora do país.
Na véspera (14 de Julho) foi notícia que a compra de viagens aéreas para Luanda, com início fora de Angola, em kwanzas, deixou de ser possível a partir, com a suspensão, desde aquele dia, dessas operações pela companhia de bandeira angolana, que desde o final de 2015 está sob gestão da Emirates.
A informação foi então confirmada por fonte oficial da transportadora área estatal de Angola, que segue os passos de todas as restantes companhias internacionais que operam a rota de Luanda, incluindo a portuguesa TAP, que há vários meses deixaram de aceitar kwanzas na compra de passagens para viagens que não se iniciem na capital angolana, face à dificuldade em repatriar divisas.
A portuguesa TAP aplicou a mesma medida em Janeiro, alegando a crise no acesso a divisas que já então se fazia sentir. A espanhola Ibéria deixou de voar para Luanda no final de Maio e a moçambicana LAM desde o início de Julho.
Só a TAP, segundo o relatório e contas da Parpública tinha depósitos em Angola no montante de 27,7 milhões de euros, no final de 2015, que estava com dificuldade de repatriar.
No dia 3 de Junho foi noticiado que Angola é o quinto país do mundo com mais fundos retidos às companhias aéreas, que não pagava há sete meses, acumulando dividendos de 237 milhões de dólares que as transportadoras não conseguem repatriar.
Os dados constavam de um comunicado da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) que coloca Angola numa lista de países liderada pela Venezuela, com 3.180 milhões de dólares (16 meses sem transferir dividendos), seguida da Nigéria (591 milhões de dólares, sete meses), Sudão (360 milhões de dólares, quatro meses) e Egipto (291 milhões de dólares, quatro meses).
No mesmo comunicado, a IATA, que representa 264 companhias aéreas e 83% do tráfego global, afirma que pediu aos governos “que respeitem os acordos internacionais que os obrigam a garantir que as companhias aéreas sejam capazes de repatriar suas receitas”.